Setembro é o mês dedicado à conscientização sobre a importância de doar órgãos e um dos maiores desafios para quem espera na fila dos transplantes é a recusa das famílias. A afirmação é da coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Maria dos Santos Machado, que apresentou a situação para a Comissão de Saúde durante reunião desta terça-feira (14).
A gestora informou que a pandemia do novo coronavirus agravou a situação e explicou que, nos últimos dois anos, a resistência dos capixabas aumentou consideravelmente. Em 2019, segundo Machado, 59% dos entrevistados no Espírito Santo não permitiram que outras pessoas recebessem córneas, fígado, rim, pulmão ou coração de parentes falecidos. No Brasil, esse total não passou de 42%. No último ano, a média nacional fechou em 36% contra 57% no estado.
Ela afirmou que a lista de espera no estado conta com 1.537 pessoas e, até agosto de 2021, foram realizadas 62 entrevistas das quais 29 resultaram em negativas e apenas 23 doadores foram efetivamente captados.
“É um momento delicado, considerando que a família enfrenta impacto emocional que gera resistência, por causa de sua perda, dificultando a tomada de decisão. Há desconhecimento da vontade prévia do potencial doador; dúvidas com relação ao diagnóstico, desconhecimento familiar do sistema de alocação, entrevista familiar inadequada, dificuldades com a equipe hospitalar que assistiu ao doente, motivação religiosa, mitos e desejo de sepultar o corpo íntegro”, declarou.
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Humanização do atendimento
Transplantado há sete anos, o subsecretário de Estado da Saúde, José Tadeu Marino, abordou a necessidade de criar mais políticas públicas que fomentem a cultura do transplante e de priorizar investimentos em acolhimento e humanização da rede pública de saúde.
“A espera é muito ruim tanto para o paciente quanto para a família. Quem está na fila de transplante sabe quais são as probabilidades que enfrenta e a família sofre demais! É fundamental investir maciçamente em equipes cada vez mais qualificadas para que as pessoas sintam que não são procuradas apenas para serem doadoras”, disse o gestor.
O vice-presidente do colegiado, deputado Dr. Emílio Mameri (PSDB), acredita que a humanização do atendimento é uma das ferramentas necessárias para melhorar o sistema de saúde. “ Se a pessoa não é bem recebida, acolhida, ela já entra em estado de defesa contra a instituição. Se melhorarmos o atendimento, teremos mais facilidade de desenvolver esse trabalho”, pontuou Mameri.
Setembro Verde
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Doutor Hércules (MDB) é o autor da Lei 10.374/2015, que institui o “Setembro Verde” como mês de conscientização sobre a doação de órgãos. A escolha do mês levou em conta o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, celebrado em 27 de setembro. O objetivo é conscientizar sobre a importância da doação, derrubar preconceitos estabelecidos na população e ainda estimular políticas públicas.
“As pessoas deixam de doar por falta de informação adequada. Temos que investir em campanhas de conscientização e esclarecer que doar os órgãos de um ente querido é um ato que salva muitas vidas. Avise a sua família”, disse o deputado.
Hospitais
O Espírito Santo conta com sete centros habilitados para a realização de transplante, sendo cinco deles conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e quatro particulares:
- Hospital Meridional: coração, fígado e rins;
- Hospital Evangélico de Vila Velha: coração, rim e córnea;
- Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam): córnea;
- Centro de Cirurgia Ocular do Espírito Santo (Cecoes): córnea (procedimento por convênio particular);
- Instituto de Olhos do Espírito Santo (IOES): córnea (procedimento por convênio particular);
- Instituto Oftalmológico Santa Luzia: córnea (procedimento por convênio particular);
- Hospital Mata da Praia: córnea (procedimento por convênio particular).
O Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) e o Hospital Evangélico de Vila Velha realizam captação de córneas na Grande Vitória e no interior.