Para quem nunca teve a curiosidade de adentrar o Palácio Domingos Martins, sede da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), é possível que se tenha em mente a imagem de um local dominado por muita formalidade.
Mas a verdade é que, além de Casa política – a mais representativa do povo capixaba –, o prédio do Parlamento abriga muitas obras de arte, principalmente pinturas a óleo, esculturas e quadros em alto-relevo de madeira e cobre.
Logo na entrada da recepção principal, localizada no térreo, uma escultura em bronze de Domingos Martins, capixaba mártir da Revolução Pernambucana, fuzilado em 1817, dá boas-vindas aos visitantes.
Posicionada em meio às escadarias que conduzem ao pilotis da Ales, a estátua, esculpida pelo artista italiano Carlos Crepaz, eterniza a memória do mártir, exibindo-o de peito estufado, dando dimensão à sua personalidade tida como destemida.
O culto à memória de Martins está presente também no hall do Plenário Dirceu Cardoso em quadro trabalhado em madeira por Crepaz, numa cena em que tenta reproduzir a agonia que precedeu o fuzilamento do republicano.
O extermínio se deu por ordem da Coroa Portuguesa em represália à sua participação no movimento pernambucano, a última sublevação contra o Império, antes da Independência do Brasil, que viria a ser proclamada em 7 de setembro de 1822.
Devido à sua importância histórica, o nome de Domingos Martins foi inscrito em 2011 no Livro dos Heróis do Brasil do Panteão da Pátria – monumento projetado por Oscar Niemeyer, localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Também no hall do plenário o visitante pode contemplar mais duas obras de expressão artístico-cultural: à esquerda e ao fundo estão os quadros de relevo em bronze “Igreja da Misericórdia” e “Palácio Domingos Martins”.
A Igreja não existe mais, pois foi demolida no início do século 20 para a construção da antiga sede da Ales, localizada na Praça do Palácio Anchieta (centro de Vitória) e onde hoje funciona a Casa de Música Sônia Cabral.
Os dois quadros foram esculpidos pelo grego Ioannis Andonios Zavoudakis. O artista imigrou para o Brasil na década de 1960 e tem parte de suas obras espalhadas em palácios capixabas. O trabalho em prol da cultura no estado, inclusive, rendeu ao artista o título de Cidadão Espírito-Santense.
Grego, como é conhecido, assina também o monumento da Cruz Reverente da Praça do Papa, em Vitória, logradouro que passou a ter esse nome após a missa realizada por João Paulo II no local, em 1991 – espaço que na época era conhecido como o aterro da Conduza.
Arariboia
Ao chegar ao hall do pilotis da Ales o visitante pode apreciar duas obras de alto impacto, tanto no contexto histórico quanto em dimensões. Uma tela de 2,22 x 2,52 metros mostra o evangelho sendo levado à selva. O óleo sobre tela, de 1920, é assinado por Antônio Parreiras, conceituado artista fluminense, e mostra cena que simboliza a catequização de indígenas pelo jesuíta José de Anchieta.
Também no pilotis se encontra a pintura do premiado artista plástico cachoeirense Levino Fanzeres intitulada “Partida de Arariboia”. Com 4,75 x 3,26 metros, o quadro é considerado a maior tela pintada do acervo artístico estadual e retrata uma cena real que aconteceu na Prainha, em Vila Velha, em 1560.
No caso, reproduz o imaginário do índio Arariboia partindo para guerrear contra os franceses na Baía da Guanabara e fundar a cidade do Rio de Janeiro. Fanzeres também é o autor das telas “Crepúsculo” e “Ressurreição de Lázaro”, que ornamentam a sala da Presidência da Assembleia.