Ales preserva importante acervo artístico do estado

Dependências da Assembleia Legislativa abrigam não só a memória política, mas também cultura e história, presentes em quadros, esculturas e outras peças de arte

Por Wanderley Araújo, com edição de Nicolle Expósito

Homem de costas observa quadro no corredor da Assembleia
Pintada há mais de 100 anos, tela “Partida de Arariboia” é um dos destaques do acervo da Assembleia / Foto: Lucas S. Costa

Para quem nunca teve a curiosidade de adentrar o Palácio Domingos Martins, sede da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), é possível que se tenha em mente a imagem de um local dominado por muita formalidade. 

Mas a verdade é que, além de Casa política – a mais representativa do povo capixaba –, o prédio do Parlamento abriga muitas obras de arte, principalmente pinturas a óleo, esculturas e quadros em alto-relevo de madeira e cobre. 

Logo na entrada da recepção principal, localizada no térreo, uma escultura em bronze de Domingos Martins, capixaba mártir da Revolução Pernambucana, fuzilado em 1817, dá boas-vindas aos visitantes. 

Posicionada em meio às escadarias que conduzem ao pilotis da Ales, a estátua, esculpida pelo artista italiano Carlos Crepaz, eterniza a memória do mártir, exibindo-o de peito estufado, dando dimensão à sua personalidade tida como destemida.  

O culto à memória de Martins está presente também no hall do Plenário Dirceu Cardoso em quadro trabalhado em madeira por Crepaz, numa cena em que tenta reproduzir a agonia que precedeu o fuzilamento do republicano. 
 


O extermínio se deu por ordem da Coroa Portuguesa em represália à sua participação no movimento pernambucano, a última sublevação contra o Império, antes da Independência do Brasil, que viria a ser proclamada em 7 de setembro de 1822.

Devido à sua importância histórica, o nome de Domingos Martins foi inscrito em 2011 no Livro dos Heróis do Brasil do Panteão da Pátria – monumento projetado por Oscar Niemeyer, localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Também no hall do plenário o visitante pode contemplar mais duas obras de expressão artístico-cultural: à esquerda e ao fundo estão os quadros de relevo em  bronze “Igreja da Misericórdia” e “Palácio Domingos Martins”.


A Igreja não existe mais, pois foi demolida no início do século 20 para a construção da antiga sede da Ales, localizada na Praça do Palácio Anchieta (centro de Vitória) e onde hoje funciona a Casa de Música Sônia Cabral.

Os dois quadros foram esculpidos pelo grego Ioannis Andonios Zavoudakis. O artista imigrou para o Brasil na década de 1960 e tem parte de suas obras espalhadas em palácios capixabas. O trabalho em prol da cultura no estado, inclusive, rendeu ao artista o título de Cidadão Espírito-Santense.

Grego, como é conhecido, assina também o monumento da Cruz Reverente da Praça do Papa, em Vitória, logradouro que passou a ter esse nome após a missa realizada por João Paulo II no local, em 1991 – espaço que na época era conhecido como o aterro da Conduza.

Arariboia

Ao chegar ao hall do pilotis da Ales o visitante pode apreciar duas obras de alto impacto, tanto no contexto histórico quanto em dimensões. Uma tela de 2,22 x 2,52 metros mostra o evangelho sendo levado à selva. O óleo sobre tela, de 1920, é assinado por Antônio Parreiras, conceituado artista fluminense, e mostra cena que simboliza a catequização de indígenas pelo jesuíta José de Anchieta.  

Também no pilotis se encontra a pintura do premiado artista plástico cachoeirense Levino Fanzeres intitulada “Partida de Arariboia”. Com 4,75 x 3,26 metros, o quadro é considerado a maior tela pintada do acervo artístico estadual e retrata uma cena real que aconteceu na Prainha, em Vila Velha, em 1560.

No caso, reproduz o imaginário do índio Arariboia partindo para guerrear contra os franceses na Baía da Guanabara e fundar a cidade do Rio de Janeiro. Fanzeres também é o autor das telas “Crepúsculo” e “Ressurreição de Lázaro”, que ornamentam a sala da Presidência da Assembleia.